segunda-feira, 4 de junho de 2007

Cabeça-coração


tenho esperado menos sorrisos do que antes. tenho criado menos expectativas nas pessoas. pela primeira vez em vinte anos de existência, tenho sido mais cabeça do que coração. se vou encontrar minhas amigas e amigos no bar de sempre, não caço ninguém com os olhos o tempo todo. e se a gente sai pra dançar e beber, me preocupo em dançar e não em encontrar o amor da minha vida dentro de um lugar quente, cheio de pessoas bêbadas e drogadas. cansei de buscar nas pessoas o que está sobrando em mim. pela primeira vez na minha vida eu não preciso desesperadamente de uma boca nova a cada noite. não preciso de suor, língua, sexo. não é que não preciso, não quero.

tenho poupado o árduo trabalho de conhecer, tentar entender, passar horas na conversa mole e planejado uma vida com alguém que está na minha frente. as pessoas congelaram e isso parece egoísta. parece egoísta precisar mais de mim mesma do que do mundo. é uma fase própria. pertence só a mim. é um hiato calado que só eu sei sobre. sou eu e o silêncio. eu e dylan.

não que o mundo esteja apático ou que as pessoas estejam menos interessantes. mas a minha sede de ter tudo e conhecer tudo está passando. embora eu ainda queira tudo – muito. mas agora eu preciso de mim. preciso estar comigo pra depois pensar em alguém. esse ano eu namorei duas vezes e agora está aquela sensação de calmaria. porque estar com alguém e ter alguém é maravilhoso. mas dá trabalho e complico demais as coisas. relacionar ainda é um verbo difícil pra mim e eu preciso parar. o meu coração só diz isso. pára um pouco. deixa um pouco. vive um pouco. vive por você. eu vivo.

e parece tão sábio e gigante ser assim. parece tão absurdo. eu, débora. a que causa e corrompe o tempo inteiro. a que destrói. em relacionamentos, eu sou sempre essa: a que destrói. de todas as formas. não sei amar pouco. não sei me entregar um pouco. quando eu vejo, tudo é tanto e tão louco – já estou tão envolvida e não tem como sair. mas eu saio, e o que é pior: pela porta da frente. levo tudo comigo. tudo. não dá pra fugir.

por isso não gosto de metas. elas estão sempre longe. sempre. sempre, elas. elas. todas elas. elas. as que me machucam e me destroem: elas. vocês. por isso preciso de calma, de vento. por isso preciso ser cabeça e aprender mais do que ensinar. mais cabeça do que coração. mais cabeça do que coração. é a minha alma que pede. então é assim que vai ser.

(Débora Lopes)

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